Máscara para simular altitude. Realmente funciona?

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Sem dúvidas a preparação física é uma grande ferramenta para os esportes hoje em dia e claro que com isso aparecem as industrias com novas formas de melhorar seu condicionamento físico de maneira milagrosa. Como a maioria das pessoas não são da área do treinamento físico, não vão atrás de pesquisas comprovando o real efeito de cada artifício que aparece, consequentemente tal produto acaba sendo comercializado como algo revolucionário e sendo vendido como água. 

Dentre esses equipamentos surgiu a máscara para simular a altitude. Prometendo simular o treino na altitude e consequentemente melhorar na condição cardiorrespiratória do atleta. 

E como funciona o treino na altitude?

Quando treinamos na altitude temos uma grande redução no número de partículas de oxigênio (O2) disponíveis para nosso corpo, com essa redução nosso organismo acaba produzindo mais hemácia (responsáveis pelo transporte de O2 até as células), afim de melhorar essa captação. Porém se a quantidade de O2 disponível no ar é menor, logo, a pressão de oxigênio (PO2) é reduzida. E sem aumento de PO2 não tem como ter uma maior captação.

Quando descemos da altitude para o nível do mar, há um aumento no número de partículas de O2 disponíveis, com isso um aumento na PO2. As hemácias produzidas pelo organismo durante a altitude começam a ser utilizadas, levando mais O2 para os alvéolos. Por isso que quando treinamos na altitude e logo depois vamos para algum lugar ao nível do mar, nosso organismo tem uma capacidade aeróbica otimizada. 

Mas será que realmente a máscara simula esse treino na altitude?

Quando se usa a máscara ela dificulta a ventilação, e isso é bem lógico, mas para ter adaptação temos que lembrar que a PO2 deve ser alterada e de forma alguma esse equipamento faz isso. A quantidade de O2 recebido pelo seu organismo ainda continua sendo a mesma, porém, agora com mais dificuldade. Além disso, mesmo que houvesse essa redução de PO2, quando se treina na altitude você está exposto durante 24 horas por dia a essa redução, não apenas a 1 hora de treino. Então não tem como o corpo ter essa adaptação simulando um treino na altitude.

Existem diversos estudos comprovando essa ineficiência do treino em hipóxia, dentre eles o estudo realizado por Richardson e col (2015), que analisou o efeito do treinamento em hipóxia na capacidade aeróbica. O estudo contou com a participação de 27 indivíduos. Os participantes foram divididos em 3 grupos, controle, normal e hipóxia. 

A atividade envolvia 30 segundos de sprints intercalados com 4 minutos de descanso. O número de sprints progrediu de quatro a sete vezes em seis sessões separadas por 1-2 dias de descanso. 


Conclusão do estudo: o treinamento realizado em hipóxia não causou melhorias adicionais a resistência. Indicando que esse tipo de treinamento não oferece melhorias adicionais ao desempenho de resistência comparado ao treinamento sem hipóxia.

Simulated hypoxia does not further improve aerobic capacity during sprint interval training.
Richardson AJ, et al. J Sports Med Phys Fitness (2015).


Mais recentemente surgiu uma revisão de literatura com meta analise, onde foram avaliados 9 artigos científicos, tirados dos melhores bancos de dados (PubMed, SportDiscus, ProQuest e Web of Science). Contendo um total de 202 participantes. 

Conclusão: o treino em hipóxia não gerou diferença significativa no VO2max comparado ao treino sem hipóxia. 

Effects of Repeated-Sprint Training in Hypoxia on Sea-Level Performance: A Meta-Analysis
Brocherie, F., Girard, O., Faiss, R. et al. Sports Med (2017).


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